Sitio do Picapau Amarelo - resumo



O Picapau Amarelo
O Picapau Amarelo teve uma segunda edição em 1939. Nele Lobato narra as aventuras dos personagens do Sítio do Picapau Amarelo quando lá se instalam os personagens do mundo da fábula. De forma exemplar, este livro mistura, na mitologia brasileira do sítio, personagens das mais variadas origens fantásticas: de personagens da mitologia grega como a Medusa e Netuno ao literário Dom Quixote e ao moderníssimo Capitão Gancho, passando pela tradição do conto de fadas com Cinderela e o Pequeno-Polegar e pelo oriental Codadade das Mil-e-Uma-Noites.

Memórias da Emília:
Editado em 1936, Memórias da Emília é um dos livros que mais diretamente abordam questões relativas à escrita; as memórias da Emília são escritas pelo Visconde de Sabugosa, revistas e corrigidas pela boneca. O livro, em última análise, discute os limites da realidade e da ficção, da história e do romance.
Quanto a seu enredo, narra alguns episódios relativos à permanência do anjinho Flor-das-Alturas no Sítio do Pica-pau Amarelo: as visitas das crianças inglesas, a fuga do anjinho de volta à Via Láctea, a hipotética viagem de Emília com o anjinho e o Visconde à Hollywood de Shilrey Temple. Mas, mais do que isso, o livro narra-se a si mesmo, isto é, narra o processo de escritas das Memórias.
Tanto na visita das crianças inglesas, que trazem de contrapeso Popeye e o Capitão Gancho, como na permanência de Emília em Hollywood, ilustra-se magnificamente a expansão do universo fantástico de Lobato, que incorpora elementos de outras mitologias, de outros mundos fantásticos, podendo mesmo ser visto como uma “colagem”, tão ao gosto modernista.

O Saci:
Publicado pela primeira vez em 1921, O Saci, então um livrinho de 38 páginas, é um dos livros de Lobato que mais direta e ostensivamente incorpora elementos da cultura brasileira.
Seguindo conselhos de tio Barnabé, Pedrinho prende um saci numa garrafa e, através dele, é iniciado nos mistérios dos personagens folclóricos da mata brasileira. Posteriormente, a ajuda do saci é decisiva na libertação de Narizinho, capturada pelo Cuca. A história, conduzida linearmente, tem um forte lastro didático: várias conversas entre Pedrinho e o Saci funcionam como debates sobre assuntos relativos à superioridade do homem no reino da Natureza.

Caçadas de Pedrinho:
Publicado inicialmente em 1933 pela Cia. Editora Nacional, este livro é o desenvolvimento de A Caçada da Onça, editado pela primeira vez em 1924 pela Editora Monteiro Lobato.
Em sua versão definitiva, o livro constitui-se de duas histórias: na primeira, a captura de uma onça provoca a invasão do sítio por onças, jaguatiricas, iraras e cachorros do mato. Os personagens conseguem escapar graças a uma idéia da Emília: pernas-de-pau e granada de vespas.
A segunda história narra a chegada ao sítio do rinoceronte Quindim, fugido de um circo.
Narra também as tentativas de captura do animal, por parte de forças do governo, e não deixa dúvida quanto a visão crítica de Lobato em relação à (in)eficiência da burocracia estatal.

A Chave do Tamanho:
Publicada em 1942, esta obra pode ser considerada como uma alegoria: pretendendo acabar com a guerra, Emília, por engano, reduz a estatura dos seres humanos para alguns centímetros, obrigando a humanidade, assim, a criar uma nova civilização.
As intenções revolucionárias da boneca, no entanto, tornam-se frustradas por um plebiscito, que vota pelo restabelecimento da estatura antiga. Talvez seja interessante o estabelecimento de um paralelo entre o livro e A Reforma da Natureza (publicado um ano antes de A Chave do Tamanho) e este: no livro anterior, a repercussão dos atos “revolucionários” no mundo exterior ao sítio é bem menor, de conseqüências menos - digamos - vitais. A Chave do Tamanho, assim pode constituir uma espécie de chegada da ficção de Lobato, que nunca abandona preocupações didáticas.
Adapt. De texto de Marisa Lajolo

Conto - Os dois burrinhos

Para aqueles que ja conhecem a obra de Monteiro Lobato e mesmo para os que ainda não tiveram a oportunidade de ler sobre, aí vai um dos seus inúmeros contos infantis, intitulado Os dois burrinhos e que assim como os outros traz consigo uma moral para reflexão.

Muito lampeiros, dois burrinhos de tropa seguiam trotando pela estrada além. O da frente conduzia bruacas de ouro em pó; e o de trás, simples sacos de farelo. Embora burros da mesma igualha, não queria o primeiro que o segundo lhe caminhasse ao lado.
- Alto lá! – dizia ele – não se emparelhe comigo, que quem carrega ouro não é do mesmo naipe de quem conduz feno. Guarde cinco passos de distância e caminhe respeitoso como se fosse um pajem.
O burrinho do farelo submetia-se e lá trotava, de orelhas murchas, roendo-se de inveja do fidalgo…
De repente…
Osh! Oah! São ladrões da montanha que surgem de trás de um tronco e agarram os burrinhos pelos cabrestos.
Examinam primeiramente a carga do burro humilde e, – Farelo! – exclamaram desapontados – o demo o leve! Vejamos se há coisa de mais valor no da frente.
- Ouro, ouro! – gritam, arregalando os olhos. E atiram-se ao saque.
Mas o burrinho resiste. Desfere coices e dispara pelo campo afora. Os ladrões correm atrás, cercam-no e lhe dão em cima, de pau e pedra. Afinal saqueiam-no.
Terminada a festa, o burrinho do ouro, mais morto que vivo e tão surrado que nem suster-se em pé podia, reclama o auxílio do outro que muito fresco da vida tosava o capim sossegadamente.
- Socorro, amigo! Venha acudir-me que estou descadeirado…
O burrinho do farelo respondeu zombeteiramente:
- Mas poderei por acaso aproximar-me de Vossa Excelência?
- Como não? Minha fidalguia estava dentro da bruaca e lá se foi nas mãos daqueles patifes. Sem as brucas de ouro no lombo, sou uma pobre besta igual a você…
- Bem sei. Você é como certos grandes homens do mundo que só valem pelo cargo que ocupam. No fundo, simples bestas de carga, eu, tu, eles…
E ajudou-o a regressar para casa, decorando, para uso próprio, a lição que ardia no lombo do vaidoso.
Monteiro Lobato

Lobato e obra